O resultado do desinvestimento crónico no SNS
O SMZC teve conhecimento da instabilidade que se vive actualmente no Serviço de Urgência do Hospital de Aveiro tendo havido lugar à demissão da Directora de Serviço e a um protesto dos médicos em prestação de serviços no Serviço de Urgência.
Há mais de dois anos que o SMZC identificou a falta de cirurgiões no Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV) que permitam cumprir a legalidade da escala de trabalho médico no Serviço de Urgência. Esta carência foi identificada e discutida em reunião do SMZC com o Conselho de Administração já em 2016 e novamente no início deste ano.
Desde então, a situação só se agravou com a saída de cirurgiões e com o envelhecimento da equipa.
Tem sido opção do CHBV colmatar a falta de cirurgiões com recurso a empresas de aluguer de mão de obra médica que não conseguem dar resposta às necessidades do CHBV.
Como resultado, a Urgência de Cirurgia tem funcionado muitas vezes apenas com dois elementos, comprometendo os serviços prestados à população e a capacidade de resposta perante emergências.
Os cirurgiões do CHBV há muito que têm alertado para a situação dramática que se vive no CHBV, lutando quotidianamente para fazer valer os seus direitos. Esta situação leva ao desgaste sobre-humano de todos os profissionais do Serviço de Urgência.
Entendendo o limite de exaustão a que os trabalhadores médicos chegaram, o SMZC reforça o seu apoio aos trabalhadores médicos que justamente pretendem melhores condições de trabalho, com qualidade, e continuará a envidar todos os esforços nesse sentido em prol de um melhor SNS. O SMZC apela ainda a que se mantenham sempre as cordiais relações entre colegas, a cooperação, independentemente da especialidade, procurando defender os interesses dos doentes e o bom funcionamento do Serviço de Urgência.
O SMZC responsabiliza os sucessivos Ministérios da Saúde e os sucessivos Conselhos de Administração por se ter chegado a este ponto em que o CHBV não tem capacidade para responder a emergências cirúrgicas com a qualidade exigida. Este é um exemplo do resultado de mais de uma década de desinvestimento no SNS, com encerramento de Serviços nos hospitais periféricos dos centros hospitalares, congelamento de carreiras e salários, exigência de realização de horas extraordinárias acima do limite legal de 200 horas, criação de bancos de horas ilegais, falta de contratação dos profissionais necessários e adequadamente qualificados com recurso a empresas de aluguer de mão de obra médica cuja qualidade de prestação é muitas vezes inadequada, e falta de um real plano para os Serviços de Urgência do país que esteja adequado à realidade do século XXI."